terça-feira, 21 de setembro de 2010

Liberté

Era fim de tarde. Fim mesmo. O sol se punha, constrangido, tingindo de rosa o firmamento com uma luz que aos poucos se exauria. A iluminação rosada deixava um ar pesado e delirante, triste. E lá vinha ele, aquele homem caminhando calmamente. Não era muito velho, mas parecia cansado, como se carregasse uma bagagem de vida imensurável. Vinha de cabeça baixa, olhos semicerrados, maõs nos bolsos. Recordava das brincadeiras de infância no parque, rua, risos. A sina humana, viver sempre a olhar para trás.

Foi sentar-se no ipê do canto, perto da grade. Era distante, vazio e coberto de folhas secas; Eram, o local e o homem. A tarde morna de domingo que sempre trás aquele ar depressivo. Sobriedade, melancolia. Acendeu um cigarro. Tragou, soltou e sentou-se.

Fitou as nuvens, pensativo. Pôs a mão no bolso e de lá tirou uma arma. Olhou para ela, ela olhou pra ele. Soltou um riso tenso e encostou o cano na cabeça. Bang! Uma revoada de pássaros assustados. Caiu de lado, inerte, regando a grama com sua vida. O sol agora se fora, deixando apenas uma fita púrpura no horizonte. O vento soprou frio. O homem jazia no chão com um sorriso sarcástico distorcendo os lábios. "Fodam-se, agora vou ser livre.", foi o que pensara quando riu. Enfim, liberdade, liberdade.