sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Whatever... Capítulo Final

Julia estava meio enjoada. Esparramada no sofá, só de calcinha, era realmente algo lindo de se ver. Anna estava sentada na poltrona ao lado, tomando um capuccino e comendo um croissant; estava esperando Julia melhorar para elas terem a conversa tão esperada. Julia respirou profundamente e perguntou:
- O que aconteceu, de verdade, lá?
Anna estava tensa. Hesitou por um tempo, mas achou melhor falar logo:
- Bom, fiz por um tempo o trabalho daquele empresa lá que me contratou, mas acabei enchendo o saco daquilo. Larguei o trampo. Comecei a vadiar, pois já tinha ganhado um bom dinheiro com o trabalho. Ia à festas, e tal, bebia, me drogava, fazia sexo, enfim, era feliz. Eu tava uma porra-loka lá. Fiquei com muita vergonha daquilo, por isso nunca quis que você soubesse.

Julia estava quieta, pensativa. Anna prosseguiu:
-Foram tantas festas, tanta droga, acabei arrumando problema com uns traficantes de lá. Eles raparam minha casa. Tive que fugir e me esconder por um bom tempo, até conseguir dinheiro e voltar. Trabalhei como stripper num bar imundo e escuro, mas finalmente, depois de um bom tempo, consegui o dinheiro necessário pra vir pra cá. E, bem, um velho tarado gostou de mim. Queria me pagar cinco mil "pila" só pra irmos pra casa dele e fazermos um pouco do velho "entra-sai-entra-sai". Bom, ele teve um ataque no meio do nosso "negócio"; juro que não tive nada haver com isso. Aproveitei que ele não iria usar mais as coisas mesmo, rapei a casa, consegui levantar uma boa grana e, bem, cá estou.

Julia estava cansada e seus pensamentos não estavam muito claros.
- Você não acha que isso parece mais enredo de filme?

Anna suspirou. Novamente hesitava em falar.
- Olha, eu sei que parece absurdo, mas é a verdade. Bom, era só isso que eu queria te dizer. Espero que você ainda me ame do jeito que eu te amo...

Julia ficou pensativa. De repente, num sobressalto, com os olhos arregalados, puxou os cabelos e falou:

- Putaquepariu! A boate! Caralho, eu saí sem avisar nada a ninguém e nem voltei... Caaaara, que merda! Vou pegar um metrô pra ver se falo com o chefe! Que porra...

Levantou-se rapidamente e começou a caçar as roupas e colocá-las enquanto se dirigia à porta. Abriu-a e de repente sentiu uma mão puxando seu pulso, logicamente a de Anna. Virou-se assustada e agitada, e não estava preparada para o beijo. Os lábios vieram macios e quentes, desejosos, com sede de amor. Ela perdeu o fôlego. Anna agarrou-a forte e lançou na parede, com uma nova investida. Mãos frenéticas, os corpos juntos, realmente algo lindo. Finalmente elas se separaram. Olharam-se angustiadas. Anna quebrou o silêncio:
- Eu te amo. Não se esqueça disso. Me perdoe por tudo, tudo.
Julia estava sem palavras. Recuou um pouco desorientada e desceu escada abaixo. Anna entrou, trancou a porta e foi para o sofá. Se jogou nele e suspirou. De certa forma estava feliz. Comeu o resto da comida, tomou o resto do café e foi na geladeira buscar algo doce. Enquanto isso, Julia corria freneticamente para chegar à boate. Às coisas, porém, não correram muito bem depois daí.

Duas horas depois dessa despedida Anna ligou a TV, enquanto preparava o seu almoço, e começou a ver o noticiário. O âncora falava algo sobre um atropelamento, e ela mal prestava atenção. Só começou a dar ouvidos quando viu que o acidente havia ocorrido perto de onde morava. As palavras do âncora começaram a pesar dentro dela:
- A avenida parou hoje diante de um atropelamento. A vítima era uma jovem chamada Julia Domarco que, segundo as testemunhas, ignorou o sinal aberto e tentou atravessar. A jovem Foi levada ao hospital, mas faleceu a caminho. Veja agora o resultado do campeonato...

Anna não acreditou no que ouvia. Seu coração produzia um martelar surdo que doía. As lágrimas vieram e não pararam. Ela caiu de joelhos no chão e se cortou com a faca, sem querer. Mas parcia nem sentir. A dor por dentro era bem pior...

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